domingo, 18 de outubro de 2009

Enquanto não chega a hora mais adequada, vomito umas letrinhas de nada: escape

I - Reflexo
Eu queria aprender a ser só.
A verdade é que eu sou dois: eu e você. Somos. Se cada pedaço de nós fosse decomposto, seríamos um: indivisível. Somos a menor unidade do átomo, quantificadamente eletrostaticamente ligados. Bombardeamo-nos de palavras, algumas disformes, pronomes que estão enclítico-proclíticos e fazem sobrar nenhum espaço para sermos. Nós.
Até que o meu eu mais eu fixa a face e pergunta: acaso seríamos os mesmos? E eu-você diz: somos todos nós - essa gente que filosofa sobre um nada, que contempla uma existência cheia de vazio.
Por favor, coloque-nos em uma garrafa para que boiemos em uma imensidão de oceano e cheguemos como mensagem nova e limpa ao outro lado do mundo. Somos só nós, eu e coisa representada (que nos evitamos todo esse tempo).
Viajo por vagalhões de vento, poeira e palavras.
Porque a coisa, amigos, essa coisa sou eu.
Espelho.

domingo, 20 de setembro de 2009

Acho que eu quase morro

Ruas sinuosas
Quarta-feira de cinzas
Bloco vazio que desce a ladeira.
Fim de tarde quieto
Beco vazio
Silêncio.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Anexos

I
O último poema
Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Manuel Bandeira
II
LÁPIDE 1
epitáfio para o corpo
Aqui jaz um grande poeta.
Nada deixou escrito.
Este silêncio, acredito
são suas obras completas.
Paulo Leminski
III
Eu só escrevo quando eu quero, eu sou uma amadora e faço questão de continuar a ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então em relação ao outro. Agora, eu faço questão de não ser profissional, para manter minha liberdade.
Clarice Lispector

terça-feira, 28 de julho de 2009

Carta de quem insiste em dizer

Darling,
Meu humor está uma droga hoje. Na verdade eu tenho ficado assim desde muito tempo. Me desculpe se não tenho dito nada, se não tenho te mandado fotos, cartas, cartões postais. É que eu estou prostrado nessa coisa que é a escrita. Tentei fabular, fazer poemas, devanear, filosofar sobre a literatura, mas não, nada disso funciona.
O cotidiano também não me atrai mais. Já escrevi contos, crônicas, disse umas coisas polítcas, agora apenas repouso em um monte de letras perdidas. Coloquei na vitrola aquele meu disco favorito, você sabe, com minha música favorita. Não, ele soou agreste, inóspito. Ensaiei uma estorinha, quase uma trova, mas nada disso parecia funcionar.
Pois bem, darling, quero te dizer a imensa verdade: eu não sou poeta. Não sou prosador, não filosofo, apenas embalo com semântica umas poucas palavrinhas. Quem me dera ter mais significado, ser mais significante. É por isso que eu me atiro em abismos dos quais ninguém pode me resgatar, só eu. É por isso que me afogo na leitura, cujo mar de palavras é meu único refúgio.
Me desculpe por toda a ausência, por toda a distância que nos separa. Eu sei, essa coisa de escrita é uma droga, mas ah, a mais lícita das drogas. É nela que eu percorro caminhos que se tornam descaminhos, que eu desconstruo o que me der vontade. Ah, darling, quanta possibilidade, quanta coisa que a gente muda sem razão, ou às vezes com uma teoria meio torta sobre como e o que dizer.
É, quem dera fosse assim. Agora eu acordo, depois de sonhar, de ficar imaginando. E é imaginando que eu me torno, finalmente, poeta. Poeta dos ninguéns, das ruas sozinhas, dos sertões tristes, das portas que se abrem para quartos vazios, dos ventos que sopram para o norte.
Finalizo esse seu esforço que é ler-me. Quando eu me encontrar, quem sabe daqui a algum tempo, te escrevo uma coisa decente, que você mereça (metrificada, rimada, parnasiana). Enquanto isso, estou por aí, e não sei quando volto. Para onde fui? Não sei, mas se me vir por aí, mande-me um recado: estou a minha procura.
Saudades,
Z.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

(Des)necessidade

1: Eu gostaria de me manter assim, escultura em envoltório de mistério. Na verdade, quando o vento bate em mim eu me desfaço, pois sou de areia. Quando recebo a pancada da brisa um pedaço de mim se esvai, e com o passar dos anos serei apenas lembranças. Lembro-me que anteontem não teve vento. Talvez eu deveria ter soprado minha própria imagem, bem como eu soprei estas palavras (e ainda sopro) que preencheriam em tese as minhas lacunas. Todo tédio que existe é cada grão que de mim se desprende, pois vento é sopro de infinidade, não tem ponto zero nem linha de chegada.
2: Posso concluir que és como o vento. Esse, quente à tarde e que chega à noite já frio, com medo do escuro. Carregas contigo palavras, letras, pessoas. Carregas a vida, aliás, porque cada momento é uma fotografia jamais repetida. Você mesmo não se repete, você não é óbvio nem enigmático, já disse. Mas nada do que eu disser vai conseguir curar esse monte de besteiras que a gente fala quando não tem nada a dizer.
FIM.

sábado, 20 de junho de 2009

Digo, pois volto

Há que se dizer
Que as palavras aparecem
Quando há pouco para dizer
Mas eu digo:
Necessidade.

1968 ou da Liberdade

Meu bem,
Sei que este relato tarda, mas você sabe, esta carta eu escrevi com a mão no coração. Ah, se eles nos pegam... Nem consigo imaginar a separação, parece tão dolorosa. Ainda não sei, também, mas creio que será assim.
De qualquer maneira, saiba que esse mundo é grande. Que você pode conseguir o que quiser, basta ser. Não ser às vezes também é uma dádiva, mas nesses tempos difíceis a melhor arma é a coragem.
A coragem não violenta, digo. Daqui a um tempo colocaremos flores nesses canhões, diremos a eles que estão errados. Plantaremos lírios sem colher balas de chumbo, hastearemos nossa bandeira da paz e nenhuma barricada nos derrubará.
Isto se chama sonho, meu bem. Aquele que parece chama quase apagada em dias difíceis, mas que nos deixa viver mais um bocado.
Eu ainda quero viver um bocado, confesso, mas não assim, acuado, amedrontado. Eu quero gritar ao vento palavras em liberdade, som fragmentado no compasso do quase vácuo. Depois, quem sabe, fazer um vôo livre por aí, enternecer.
Então é isso. Até a próxima, meu bem. Esse 'próximo' é perto, eles não vão nos pegar. E se pegarem, seremos corajosos, seremos essa juventude que faz tudo intensamente.
De coração, S.

sábado, 11 de abril de 2009

Arrefeceu

Porque quando a palavra acaba
e não há mais o que dizer,
Não há remédio que cure,
Não há palavra que console,
Não há afago que acalme.


É preciso dar um tempo em tudo.

sábado, 28 de março de 2009

Reflexivo

"O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais."
- Grande Sertão: Veredas. Pág. 319

Dissetãorápidoquesaiuassim

Não quero mais falar nada. Eu precisava dizer, mas não tenho palavras, não tenho paciência. Meus dedos rápidos trepidam o teclado, e ecoa em meu ouvido uma melodia aguda, melancólica, sôfrega.
Para mim, escrever etcéteras e reticências é inexorável. Acho também que as pessoas deviam se comunicar pela escrita, somente. Dizer é demasiado pesado qual notas de órgão executando Bach em disritmia. É por isso que abaixo meu tom de voz de tal maneira que o som sai assim: mudo.
Eu queria um livro que não acabasse mais, que se tornasse minha própria ampulheta. Insisto sempre em produzir algo novo, sapecar palavras bonitas, feito pão velho adormecido que a gente esquenta de manhã. Quero, de preferência, mais manhãs cinzentas para ver-me representado.
No momento sou coisa alguma. Queria eu ter a chave do tempo, esse que não consigo entender ou mesmo explicar. Esse que me faz cair dentro do abismo que sou eu. Vamos, pegue em minha mão e vamos correr por aí. Quem sabe um dia não chegaremos onde você pára, onde é ponto final. Se existe esse lugar eu quero conhecê-lo e prorrogá-lo, por uma infinitude de tempo, pois preciso aprender a ser.

sábado, 14 de março de 2009

Estroboscópico

Como se jogasse pedrinhas ao rio, vi muitas pessoas partirem.
Como se arrancasse pétalas de margaridas, vi a menina crescer.
Como se corresse rápido, vi os apartamentos mudarem seus donos.
Como se estivesse parado no mesmo lugar,
O tempo só passava para mim.

"Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão
."
C.D.A.

domingo, 8 de março de 2009

Estação

São as águas de março,
fechando o verão:
que tarda,
que esquenta,
sem chuva
e arde até o anoitecer.

É a moça que dorme na rede,
é o bicho no mato
e o som de
fadinhas
pirilampos
cigarras
coisinhas que voam.

É o sobradinho aberto,
a cortina parada:
- Quedê o vento? pergunta a velha.
E nada.
Na igrejinha é meia-noite,
ninguém mais transita
- Madrugada é dos mortos, murmura a velha.

É o sono que chega
e a criança deitada
a mãe sossegada
brincadeira de roda
só quando o galo cantar.
E amanhã vai chover:
promessa de vida no teu coração.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

E foi embora

A menina pegou o caderno de folhas brancas e pôs-se a desenhar. Com aqueles lápis que havia ganhado de aniversário, parecia poder fazer desenhos mágicos, combinar cores, variar formas. Aquilo era para ela um júbilo, atividade obrigatória do fim de tarde. Quando o pai chegasse, e a mãe finalmente servisse o jantar, ela pararia, retornado somente no dia seguinte.
Mas teve um dia que foi diferente. O pai demorava, a mãe preocupada tinha um olho na porta e outro na janela. Um ventinho balançava a chave na porta e ela achava que era o marido. Engano. A menina ainda estava perdida nas cores, agora descobrira que podia fazer aquarelas (Oh, belos lápis).
Até que quebrou uma ponta. Logo a ponta do lápis mais bonito, aquele azul quase verde que sempre colore o mar. A menina ficou perplexa com o que acontecera. Como? Não se sabe, mas ela chorava. E a mãe veio da cozinha, enxugando as mãos no avental e perguntando o que tinha accntecido. E quase aos soluços, dissera que o lápis havia ficado sem ponta. A mãe a consolou e voltou para o fogão.
Nada do marido. A ponta quebrada, pouco barulho em casa, logo ele que chegava fazendo alvoroço. A menina parada, a mãe com luva e avental prestes a tirar a comida do fogo. Nas horas em que se está ocupado, há sempre uma vizinha fofoqueira que atrapalha. A mãe, com pouca paciência, ouviu a velha, que antes rabugenta e maledicente, agora trazia expressão de angústia:
- Ô dona Fulana, seu marido morreu.
Panela queimada, lápis sem ponta, mulher viúva. Com os lápis, a menina pintava as cores da despedida.
"Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro
Um arco-íris de ar em águas profundas.
Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.
Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada."
Hilda Hilst

Outro

Acabei de ganhar mais um selo, desta vez da Rachel do C O N T A D O U R O. Foi uma agradável surpresa descobrir este espaço, ainda mais pelo fato de seus textos me dizerem muito (há muito significado em todas as linhas). Vida longa às literatices (II)!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Vai chegando ao fim


Quando eu era criança, minha avó ficava me contando suas intermináveis histórias. E em Fevereiro de cada ano era sempre a mesma coisa: carnaval.
Nascida e criada na Lapa, ela dizia que os melhores bailes eram ali. Bastava andar um pouco e já estava na Rio Branco, palco de blocos que pregavam a felicidade, e irreverência e que faziam a festa. Andando menos ainda recebia as boas vindas dos Arcos, e lembrava, saudosista, a pura carioquice do lugar.
Recordava-se também das mulatas faceiras e dos malandros que as perseguiam incessantemente com fervor e adoração. Fantasiada de bahianinha, ia brincar nas escadarias que desembocavam em Santa Teresa, espalhando confete, serpentina e muita alegria. Nas casas, as janelas abertas serviam de moldura aos rostos de senhoras que riam, em aprovação.
Mais para a esquina, estirado no chão, o bêbado de ontem, quiçá de anteontem, sobre o chão frio e duro, antes o chão das marchinhas. A correria era uma só: pai e mãe chamavam, já ia sair o bloco. As freiras do convento próximo passavam depressa, e logo estavam longe, andando a rápidas passadas. Fora ensinada que carnaval não é coisa de Deus, mas mesmo assim o aproveitava.
E o tempo sempre passa, eu ouvindo e ela falando. E passou mesmo: veio a época de mocinha (menina-moça, disse ela), moça feita, os filhos. Eles também brincaram o carnaval, mas não tão intensamente.
Ah, minha avó suspirava de saudade. Sentada em sua cadeirinha, majestosa, ela refletia: quanta vida!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Selo!



Acabo de ganhar um selo de um blog especialíssimo de que gosto muito: Diálogos a Sós. Julia, querida, o Diálogos é um retrato de você mesma, pura metalinguagem, das mais naturais e sinceras. Vida longa às literatices!


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Devaneando

Mariazinha, bonitinha,
um amor de pessoa!
Soprou o vento,
bateu asas e voou.

Digo porque vivo II

Dizer o que penso é transposição de um rio de palavras que não sei para onde vai. Aliás, também estou em dúvida, mudando o curso, acumulando poeira em minhas dobradiças. Refletir sobre o tempo é virar a ampulheta contra si mesmo: eu não, vivo porque não canso de falar.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Digo porque vivo I

Os últimos dias foram muito custosos. Passaram com lentidão, densos e pesados. Tive que pensar mil coisas, sofrer por antecipação, escolher. Mas no final as coisas se encontram, e a linha termina no lugar onde realmente havia de parar.
A necessidade de escrever chegou de supetão, e logo vi aqui o meu bote de escape ao naufrágio. Eu preciso ser mais leve, respirar ar puro. Levantar a cabeça e ver o céu que passa, nunca o mesmo. Também sou um pouco 'não o mesmo', feito duna do deserto: cada vento que sopra em mim pode me moldar outro.
Deserto, essa palavra diz muita coisa. Cada grão é uma letra, e nesse mundo tão vasto eu passo, arrastando comigo as palavras que me definem, deixando para trás as obsoletas. Eu sou renovável.
PS: O Blog comemorou um ano há 9 dias, e nem fiz festa ou algum tópico. Me declaro um sobrevivente da escrita, porque "Eu não me incomodo muito com defeito. Defeito é coisa que nunca me atrapalhou.", como disse Clarice. Então eu me escrevo e fico um pouco acostumado a isso, às vezes acho chato, às vezes não. Mas isso é comum para mim, e fico aqui com minha intenção de prosseguir e ver aonde dá.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Quero ser lido

Aquele escritor que nem todos gostam sentou-se para escrever algumas páginas de seu novo livro. Não obstante, ficou um tempo enorme pensando, olhando vago, e decidiu, por fim, escrever algo não convencional. É, estava cansado de (longas) dissertações sobre temas sociais e contemporâneos, que seriam lidos por críticos de qualquer coisa, leitores do dia-a-dia ou por professores que eventualmente retirariam algo de seus textos para uma prova ou uma proposta de redação. Mas tudo isso era muito chato, não tinha graça nenhuma. Estava chata também aquela máquina obsoleta, com palavras obsoletas. Então finalmente começou seu relato:
"Sabe, hoje tive vontade de escrever alguma coisa. Pensei em contar uma historinha, ou ficar proseando algumas linhas, mas na verdade o que eu quero é dizer. Eu desdigo muitas coisas, mas neste momento não estou precisando.
Gosto de escrever quando estou fazendo muitas coisas. É como uma fuga, encontro um momento para despejar as palavras. Muitas não saem, outras relutam, mas eu empurro todas com minha inspiração indelével. Nem sempre estou inspirado, para falar a verdade. Como agora: o som das teclas é sinfonia aleatória.
Não gosto de muito movimento, é por isso que não sou sinuoso. Estico-me pelo tempo como quem é linear e constante. Embora pense e escreva com constância, tudo o que digo se apaga, eu me apago com o tempo. Reflito muito sobre a velhice, fico velho mais cedo.
Estou um pouco mais seguro do que quero dizer agora. Talvez daqui a um tempo me sinta pior e tenha que fazer uma transfusão de palavras comigo mesmo. Eu tento me renovar, mas às vezes não consigo. Meu estilo ultrapassado e meus parágrafos curtos não me deixam.
Vou descansar mais um pouco, mais do que já descansei. Ler um livro, pôr um disco na vitrola, cantarolar errado uma letra de música (sim, eu não gravo todas). Estou apenas começando, ainda há muito tempo."

sábado, 10 de janeiro de 2009

Exercício

Um dia vou escrever um livro.
É, com páginas de papel e letras impressas.
Vai ter capa, índice,
mas nada de prefácio e posfácio,
sou breve e uso poucas palavras.
Minha prolixidade está no pensamento,
minha escrita é esquálida e simplista.
Não elaboro fraseado bonito,
não consulto o dicionário sempre,
não costumo reinventar.
Quando escrever meu livro, porém,
lerei milhares de coisas,
pesquisarei termos plurissignificativos,
salpicarei figuras de linguagem.
Haverá linhas de mim mesmo,
puro exercício de metalinguagem,
e estarei renovado.
Escrever é meu não-tempo,
minha sala isolada e silenciosa.
O tempo acaba, a tarde chega,
e findo esta página,
esperando o dia seguinte,
pois já é tarde.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Atípico

Novo acordo ortográfico: cinquenta ideias para melhorar a infraestrutura da Língua Portuguesa.
Se vai melhorar, não sei, mas vai dar dor de cabeça. Só na cabeça? Ainda é cedo, mas para remediar (e não previnir), melhor um anti-inflamatório.

Ficam os votos

Hoje vou colocar minha melhor roupa, sair por aí, andando com o vento, conversando com o vazio que são as ruas de 1º de Janeiro. Ah, eu gostaria que todo dia tivesse um pouquinho de 1º de Janeiro. Sempre um ar de coisa nova, dessas que a gente pensa que nunca viu mas que já nos acompanham desde sempre. Vou também encher um balão, colocar fita e andar com ele, até que flutuemos juntos, e eu possa ser o vento, transcendental e límpido. Não tão leve, mas realizado.
Pá (barulho), acordei.
Hoje é dia 1º, a manhã se desenha: hoje é o início de um quebra-cabeça, que termina daqui a 364 dias, para que outros e mais outros possam ser montados, cada um a sua maneira.

"Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA..."
Mário Quintana