segunda-feira, 21 de abril de 2008

Aleatório - Coisas do tempo

Hoje a minha tarde foi cinza, foi zero. Não consegui me compenetrar em nada, mas lia inconscientemente. Assim fiquei até a hora do café, onde me acompanharam o pão e o leite. Gelado. Na janela, a rua passava como um vento, deserta e fria pelo feriado. Feriados: são tão cálidos.

Procurei deter-me em Clarice, mas vaguei um pouco, compreendendo aquilo que estava à minha frente. Ora lia, ora parava. Olhava para a rua, os pombos de segunda à tarde são menos felizes. Eles se empuleiram e ficam ali, estáticos. Passa um segundo e somem. Não sei se meus escassos leitores notaram, mas eu tenho certa necessidade de entender aquele que não fala. Eu preciso compreender melhor o silêncio.

Estive pensando em fazer também um filme. Mas sobre o quê? Nem mesmo enredo eu tenho. Pensei em filmar o silêncio: de repente surgiram carros na rua, ruidosos e agressivos. Ah, como eu às vezes odeio o progresso.

Progresso. Sempre quis resgatar valores ilhados pelo tempo. Não sei se isso é normal, mas não quero ser controlado por um chip. Pavor é meu sobrenome, e termino mais um texto inconclusivo desta maneira: FIM.

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imagem: Robert Doisneau, Les Glaneurs de Charbon, 1945. Gelatin Silver Print, Signed.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Le Petit

"Vê-se bem apenas com o coração. O essencial é invisível aos olhos."
Antoine de Saint-Exúpery

Prova

caos.
c-a-o-s

CAOS.
C-A-O-S

Quanto vácuo tem a sua paciência?
mine: none

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sobre a Escrita

"Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.
Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.
Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.
Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.
Simplesmente não há palavras.
O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.
Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.
Simplesmente as palavras do homem."
Clarice Lispector

domingo, 6 de abril de 2008

Cansaço

Cansaço extremo. Tanta coisa por fazer, diversos compromissos, muito peso. Eu confesso que já fui mais resistente a esse tipo de fenômeno, mas hoje em dia sou um pouco velho, calejado. Consigo resistir a dois, três tombos, mas se (somente se) chegar ao quarto, desfaleço e não ando mais.
Por favor, preciso de tempo/ força. Movimentos retilíneos e uniformes em direção ao sentido e à conformidade. Preciso me consternar, me retiro por uns instantes e a brisa vai levar de mim toda essa apreensão.