sábado, 20 de junho de 2009

Digo, pois volto

Há que se dizer
Que as palavras aparecem
Quando há pouco para dizer
Mas eu digo:
Necessidade.

1968 ou da Liberdade

Meu bem,
Sei que este relato tarda, mas você sabe, esta carta eu escrevi com a mão no coração. Ah, se eles nos pegam... Nem consigo imaginar a separação, parece tão dolorosa. Ainda não sei, também, mas creio que será assim.
De qualquer maneira, saiba que esse mundo é grande. Que você pode conseguir o que quiser, basta ser. Não ser às vezes também é uma dádiva, mas nesses tempos difíceis a melhor arma é a coragem.
A coragem não violenta, digo. Daqui a um tempo colocaremos flores nesses canhões, diremos a eles que estão errados. Plantaremos lírios sem colher balas de chumbo, hastearemos nossa bandeira da paz e nenhuma barricada nos derrubará.
Isto se chama sonho, meu bem. Aquele que parece chama quase apagada em dias difíceis, mas que nos deixa viver mais um bocado.
Eu ainda quero viver um bocado, confesso, mas não assim, acuado, amedrontado. Eu quero gritar ao vento palavras em liberdade, som fragmentado no compasso do quase vácuo. Depois, quem sabe, fazer um vôo livre por aí, enternecer.
Então é isso. Até a próxima, meu bem. Esse 'próximo' é perto, eles não vão nos pegar. E se pegarem, seremos corajosos, seremos essa juventude que faz tudo intensamente.
De coração, S.