Preciso me reiventar. Meus quadros já não são mais bonitos, minha dança é a dos movimentos enferrujados, minhas palavras apagam-se naturalmente e meus olhos já não brilham como antes. Minhas flores já não abrem mais, minhas roupas estão desbotadas e meu ar não se renova. Há muito que convivo com o dilema do envelhecimento. Já não conto mais com tão boa memória, ou com amigos de longa data que me ajudem a lembrar de tudo. A xícara favorita está velha, um pouco quebrada, o cachecol mais bonito quase devorado pelas traças, e minhas mãos enrugadinhas, pequeninas e arqueadas. Não vou muito bem das pernas mesmo. Mas são suficientes para me dirigir ao cesto e pegar o pão, beber o chá, arrumar o que ainda resta.
Porém, ao menor dos esforços sinto que todas essas horas, dias, meses e outras unidades de medida de tempo foram muito úteis. Sim, e continuarão a ser, enquanto eu durar.
[Fim de gravação.]
Um comentário:
Às vezes tenho a sensação de que me reinvento sem ao menos me dar conta.
Quando vejo já sou outra, completamente diferente, (digo isso com relação à minha escrita).
A estabilidade me faz falta.
Muito bom o texto, podia fazer parte de uma coisa maior, ficaria maravilhoso.
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