L. não sai de casa porque está chovendo. Não sai mesmo é por preguiça, mas não quer admitir. A chuva veio bem a calhar: no Domingo as ruas ficam mais vazias, não tem algodão-doce na praça, as crianças não saem de casa, as avezinhas longínqüas não chegam para pegar milho. Ainda mais com essa chuva.
Então é que decide fazer um desenho. Procura papel, lápis e algumas tintas. Senta-se no chão, mas fica parado pensando no que vai fazer - é chato desperdiçar papel, tinta e tempo. Após um tempo, decide pintar um bosque.
Frondoso, belo e explêndido, assim que ele vai ser. Com animaizinhos, um céu de nuvens, um solzinho modesto e ameno. Terá árvores de vários tipos, frutas comestíveis, borboletas majestosas e formiguinhas trabalhadoras. A senhora joaninha vem depois, em uma dessas folhinhas de verde vivo que nutrem o capim de beleza.
Um riacho acolherá os pés do caminhantes, isso, é claro, se L. fizer pessoas, porque agora era senhor. Senhor do verde-claro, do amarelo-ouro, do carmim e de mais nãoseioquê. E assim vai a tarde: lápis espalhados, papéis espalhados, tintas abertas. A mãe chamando, não há resposta - L. só ouve os sons da imaginação.