segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Dziewięćdziesięciokilkoletniemu

Quem vos escreve está em toda parte ao mesmo tempo, em todos os retratos, estampado com timidez nas costas do papel em branco. Quem vos escreve tem a aspereza da lixa encarregada de polir a matéria bruta. Nas horas de pânico, quem vos escreve é o que há dentro do tronco da árvore morta, quem vos escreve quando está em pânico é porque precisa dizer algo com muita urgência sem usar a verbalidade dos sons internos (tum-tuc-tum-tuc).
Quem vos escreve precisa de caminhos que não levam ao paraíso, mas que se perdem como que infinitamente por dentro de quem vos escreve. Quem vos escreve tem som de agressão instrumental, de cordas rompidas e atadas com nós. Quem vos escreve aprecia contagens exorbitantes e tem uma paixão muito secreta por números, sequências e circuitos - não reveladas porque quem vos escreve tem medo de perder-se em dado.
Se algum dia perguntarem sobre quem vos escreve, diga que há um bilhete em cima da cômoda ao lado do criado-mudo. Nesse bilhete, quem vos escreve vos escreveu que, por mais que se pergunte, não há resposta, e por mais que não se responda, mais há que se acrescentar ao que supostamente já está encerrado. Afinal, o que foi dito por quem voz escreve é pura propagação de sons que não se repetem e que percorrem caminhos curvilíneos, labirintos - imaginação.

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