sábado, 5 de julho de 2008

Exílio

Paris, 31 de Outubro de 1961.
Querida titia Dorothy,
Não prepare biscoitos de hortelã para mim, pois não regresso mais, isso é definitivo. Aqui faz frio, mas toma-se chá quente e o ambiente é ameno. Não agüentava mais a luta com as palavras, estava fustigado. Era uma terrível batalha, já não sabia mais o que fazer. Ficava me debatendo com elas, desgaste emocional e físico. Desapaixonei-me pela submersão em que me deixava nelas. Noites e mais noites sem dormir, tentando concatená-las, sabe, muito difícil. Aí mais indisposições e conflitos, evito-os por aqui. Já está sendo difícil, imagine, colocá-las todas juntas, nesse discurso, pesaroso porém desbafo. De modo algum me leve a mal, titia, mas preciso de ares renovados. Tenho que me enquadrar em algum lugar, sabe reconhecimento mútuo? Se continuasse onde estava, sucumbiria. Mas como ainda não dei chance para o fim, presenteio-me com sábia distância da ingratidão das palavras que me fogem e não deixam que eu me aproxime e as tateie (se não as tenho, sou sem rumo).
Acabo por aqui, estou cansado. Quando tiver notícias, lá vai batalha, mas mantenho-a informada.
Saudações,
A.

Um comentário:

Anônimo disse...

As palavras são realmente de um ingratidão insuportável!