Estou sem paciência, mas com papel e caneta. Na sala de estar.
Já faz mais de algumas horas que estou nesse lugar, hermeticamente lacrado, aprisionado, vítima do tempo e dos ponteiros do relógio. O ar está denso, deve ser aquela luz velha sustentada por um lustre do século passado. Nas paredes, um tratamento gasto e amarelado, marca de que nesse lugar não chegou a modernidade. Além disso, quadros horripilantes de uma sobriedade infernal aprofundam ainda mais o ambiente, onde eu me sinto uma bolinha de naftalina na caixa de antigüidades.
Mais horas se passam, nada de chegar alguém. Estou sentado em um sofá desconfortável, embora esteja estranhameente imóvel e não consiga me dirigir até a cadeira que foi da vovó. Porque o tempo, este é o meu dilema. Vou promover minha própria fuga, quero escapar, mas há um paradoxo que não me permite avançar: quanto mais penso em sair, mais regrido e o tempo parece me castigar com isso.
Castigo, é ao que estou submetido agora. Até respirar está ficando difícil. Começo a pensar coisas sem sentido, como um quadro dadaísta com as coisas saindo de seu eixo de rotação. Me sinto confuso, acho que vou desmaiar, tudo roda e em pouco tempo estarei apagando, desfalecendo.
Não, melhor parar por aqui. Escrever pode ser difícil. Mas daqui só saio quando acabar este relato de idéias soltas. Escrever é demasiado estafante. Acabei.
Ponto final.