sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Antigo

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I)
o
capitalismo
corrói o homem
neoliberal
vendida alma
comprável
dinheiro
capital

processo
gradual
de retrocesso
do homem
ganancioso
dia-bólico
mau
(22/01/2008)
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Extremo de Agonia
As pessoas têm extrema necessidade de se sentirem acomodadas. Parece um mal comum, algo simples e sensato. Pela ótica do pragmático, o simples é acomodado, ele chega, se instala e pronto, cá estamos a fazer nada. Pois bem, eu também preciso me acomodar. Mas faço isso no incômodo. Me incomodo constantemente com o banal dos outros, mas importante para mim. Sou tambem capaz de não fazer nada e ficar de mãos atadas, ou mesmo canalizar o mal feito e o feio. Sinto muito em dizer, mas não agüento mais tanta inconstância, tantas falsas promessas. Acredito piamente no poder da sua, da minha, da nossa palavra. Mas acredito mais fortemente na verdade delas. Queria muito voltar o tempo, mas minhas pernas encurtam com o passar do mesmo. Estou rente ao chão, agora só observo. Sou sim um pedaço de coisa, a coisa representada. É como se estivesse aqui em um verdadeiro teatro, em que eu brinco de ser feliz. Felicidade fácil, comprada. Puro fato de sentir e não transmitir. Porque hoje sou nada, sou sombra de ser. Sou vórtice perante ao abismo. E me rejubilo.
(11/11/2007)
* * *
Marie
Marie,
Esta pequena trova,
pura e singela que escrevo a ti,
representa a mais doce candura
e o mais triste encanto,
pois se não fosse por você, Marie,
O mundo não teria tantas flores,
tantos bosques,
tantos amores.
(26/10/2007)

Regresso (trovinha)

Lá na lagoa,
o rei era o sapo:
Vivia coachando,
em solene descompasso.

Lá na floresta,
o rei era o leão:
Caçava gazelas,
rugia valentão.

Em um distante palácio,
era eu absoluto rei:
Porém ainda não me dei conta,
que deste sonho já regressei.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Poesia-imagem

"Mãos", por Arnaldo Antunes.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Verão

Hoje acordei cedo. Tão cedo que eu mesmo estranhei estar de pé àquela hora. Levantei soturno da cama, como um gato que se espicha assustado. Caminhei até a cozinha, vi o pão, a manteiga e o café. Sentei. Pausei um momento, olhei a janela, e vi o campo que lá fora se iluminava pelo Sol. Senti-me bem, eu que em minhas manhãs costumo estar mergulhado em tédio, mas não só nelas, talvez durante o dia inteiro.

Terminado o ritual exigido pela manhã, corri pela grama até o mais verdejante ponto. Lá deitei-me sem medo do calor, que era apazigüado pelo vento. Vento forte, fugaz, faceiro. As andorinhas refestelavam-se pelos ares, percorriam as árvores atrás de frutos, e furtavam-me pequenos galhinhos. Senti que era aquele o momento de me libertar, e então, como uma perdiz, lúcida e alabastrina, lancei-me ao ar, consciente de que o limite de tudo era a minha imaginação: infindável.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Subterfúgio e novidade

* * *
Terminado o Carnaval, eis que nos encontramos com os seus melancólicos despojos: pelas ruas desertas, os pavilhões, arquibancadas e passarelas são uns tristes esqueletos de madeira; oscilam no ar farrapos de ornamentos sem sentido, magros, amarelos e encarnados, batidos pelo vento, enrodilhados em suas cordas; torres coloridas, como desmesurados brinquedos, sustentam-se de pé, intrusas, anômalas, entre as árvores e os postes. Acabou-se o artifício, desmanchou-se a mágica, volta-se à realidade.
À chamada realidade. Pois, por detrás disto que aparentamos ser, leva cada um de nós a preocupação de um desejo oculto, de uma vocação ou de um capricho que apenas o Carnaval permite que se manifestem com toda a sua força, por um ano inteiro contida.
Somos um povo muito variado e mesmo contraditório: o que para alguns parecerá defeito é, para outros, encanto. Quem diria que tantas pessoas bem comportadas, e aparentemente elegantes e finas, alimentam, durante trezentos dias do ano, o modesto sonho de serem ursos, macacos, onças, gatos e outros bichos? Quem diria que há tantas vocações para índios e escravas gregas, neste país de letrados e de liberdade?
Por outro lado, neste chamado país subdesenvolvido, quem poderia imaginar que há tantos reis e imperadores, princesas das Mil e Uma Noites, soberanos fantásticos, banhados em esplendores que, se não são propriamente das minas de Golconda, resultam, afinal, mais caros: pois se as gemas verdadeiras têm valor por toda a vida, estas, de preço não desprezível, se destinam a durar somente algumas horas.
Neste país tão avançado e liberal — segundo dizem — há milhares de corações imperiais, milhares de sonhos profundamente comprimidos mas que explodem, no Carnaval, com suas anquinhas e casacas, cartolas e coroas, mantos roçagantes (espanejemos o adjetivo), cetros, luvas e outros acessórios.
Aliás, em matéria de reinados, vamos do Rei do Chumbo ao da Voz, passando pelo dos Cabritos e dos Parafusos: como se pode ver no catálogo telefônico. Temos impérios vários, príncipes, imperatrizes, princesas, em etiquetas de roupa e em rótulos de bebidas. É o nosso sonho de grandeza, a nossa compensação, a valorização que damos aos nossos próprios méritos...
Mas, agora que o Carnaval passou, que vamos fazer de tantos quilos de miçangas, de tantos olhos faraônicos, de tantas coroas superpostas, de tantas plumas, leques, sombrinhas...?
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"Ved de quán poco valor
Son las cosas tras que andamos
Y corremos..."
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dizia Jorge Manrique. E no século XV! E falando de coisas de verdade! Mas os homens gostam da ilusão. E já vão preparar o próximo Carnaval...
Cecília Meirelles
Texto extraído do livro "Quatro Vozes", Editora Record - Rio de Janeiro, 1998, pág. 93.

Tentativa

Isso aqui é, na verdade, uma tentativa (um tanto insana), de escrever pelo simples fato de escrever. Contudo, é uma coisa que custa-me muito, posto que minhas idéias são como amigas, mas não daquelas de todas as horas: são amigas passageiras, demonstram-se vivas, morrem e renascem em momentos inesperados, mas acredito eu que estes sejam os mais oportunos.

Portanto, que venham todas, sem medo e angústia. Faz-se necessário todo seu apoio, para que escrever seja realmente uma necessidade.