Escrevo para me isentar de alguma coisa ou de alguém. A verdade é que muito do que escrevo revela mais sobre mim do aque aquilo que falo, então de certa maneira tudo se torna um tanto translúcido. Minha fala é complicada demais aos ouvidos simplórios, soa líquida e às vezes um pouco ácida. Não estou acostumado a agitações e quando me agito sou tomado por enromes perturbações que me deixam amortecido, e me desconheço.
Tenho receio de perder minha companhia porque ela me agrada, no fundo tenho muita estima por aquilo que vivo por dentro, matéria indecifrável quantificada por cálculos absurdos. Me apego muito facilmente ao silêncio embora goste de falar e o faça um pouco freneticamente. Por isso, pergunto ao interlocutor o que ele acha, o que pensa, volta e meia recebo confirmações de que deveria ter me calado ou dito apenas alguns monossílabos, seria até melhor.
Estou precisando de férias, férias de muita coisa, intervalo de tempo preenchido por espaços aproveitáveis. Recuperaria minha sobriedade e meu olhar distante que enxerga tudo minuciosamente perto. Lavaria minha fúria, a que me faz querer atacar o outro e atingí-lo em seu âmago. Exploro sem medo essas cores incontroláveis porque durante meus momentos de profundidade apenas eu estou comigo, ninguém ousa partilhar de minha companhia, sou minha coisa inexplicável.
Portanto, desejo um porvir que me esclareça o que ainda não soa claro. A luminosidade não incomoda meus olhos, pelo contrário, ela me ajuda a enxergar quando preciso, quando não preciso apenas fecho meus olhos e sinto a claridade que me entranha. Portanto, desejo ser um híbrido de fênix e esfinge - continuo desafio, quase indecifrável, porém me regenero e consigo, com habilidade e paciência, descobrir quantos lados tem o meu prisma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário