sábado, 28 de março de 2009

Reflexivo

"O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais."
- Grande Sertão: Veredas. Pág. 319

Dissetãorápidoquesaiuassim

Não quero mais falar nada. Eu precisava dizer, mas não tenho palavras, não tenho paciência. Meus dedos rápidos trepidam o teclado, e ecoa em meu ouvido uma melodia aguda, melancólica, sôfrega.
Para mim, escrever etcéteras e reticências é inexorável. Acho também que as pessoas deviam se comunicar pela escrita, somente. Dizer é demasiado pesado qual notas de órgão executando Bach em disritmia. É por isso que abaixo meu tom de voz de tal maneira que o som sai assim: mudo.
Eu queria um livro que não acabasse mais, que se tornasse minha própria ampulheta. Insisto sempre em produzir algo novo, sapecar palavras bonitas, feito pão velho adormecido que a gente esquenta de manhã. Quero, de preferência, mais manhãs cinzentas para ver-me representado.
No momento sou coisa alguma. Queria eu ter a chave do tempo, esse que não consigo entender ou mesmo explicar. Esse que me faz cair dentro do abismo que sou eu. Vamos, pegue em minha mão e vamos correr por aí. Quem sabe um dia não chegaremos onde você pára, onde é ponto final. Se existe esse lugar eu quero conhecê-lo e prorrogá-lo, por uma infinitude de tempo, pois preciso aprender a ser.

sábado, 14 de março de 2009

Estroboscópico

Como se jogasse pedrinhas ao rio, vi muitas pessoas partirem.
Como se arrancasse pétalas de margaridas, vi a menina crescer.
Como se corresse rápido, vi os apartamentos mudarem seus donos.
Como se estivesse parado no mesmo lugar,
O tempo só passava para mim.

"Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão
."
C.D.A.

domingo, 8 de março de 2009

Estação

São as águas de março,
fechando o verão:
que tarda,
que esquenta,
sem chuva
e arde até o anoitecer.

É a moça que dorme na rede,
é o bicho no mato
e o som de
fadinhas
pirilampos
cigarras
coisinhas que voam.

É o sobradinho aberto,
a cortina parada:
- Quedê o vento? pergunta a velha.
E nada.
Na igrejinha é meia-noite,
ninguém mais transita
- Madrugada é dos mortos, murmura a velha.

É o sono que chega
e a criança deitada
a mãe sossegada
brincadeira de roda
só quando o galo cantar.
E amanhã vai chover:
promessa de vida no teu coração.