sábado, 28 de junho de 2008

Dilema

O som do surdo
O grito do mudo
O filme do cego
O samba da bossa-nova
O cheiro da água
A música sem notas
A viagem sem volta
A fotografia manchada
O céu sem nuvens
O peso do vazio
A multidão do deserto
O barulho do silêncio
O passado do indigente
A luz da escuridão.

Deixei todos trancados
em um baú no fundo do armário,
mas não sei o motivo,
eles insistem em sair.

sábado, 21 de junho de 2008

Poema do novo literato

Alguém me vê um céu
Desses cheios de pássaros
Para que eu possa voar
Longe de qualquer coisa
Sem obstáculos,
Impreciso.
Alguém me vê uma saída,
um exílio, para que eu voe para bem longe
de palmeiras tão tristes,
de pessoas tão mesquinhas,
de minha Pasárgada onde não sou filho nem rei.
Finito.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Tendência

Me perdi na Sexta-feira. Era cinza o céu e silenciosas as ruas movimentadas. As pessoas andavam, andavam, paravam, conversavam, sorriam, reclamavam, mudavam de lugar, tudo em silêncio. Foi aí que me senti surdo.
Às vezes tenho vontade de ignorar a todos. Sair por aí feito um vento de inverno, que ninguém pode desejar porque assim acaba fazendo doer os ossos. Queria também ser invisível, de modo a ficar nos lugares mais secretos ouvindo as confissões mais ilícitas. Mania de tentar ser invasivo.
Não, não irei me render a nenhuma tentativa de diálogo. Quebrei meu telefone, joguei fora meus papéis de carta, isolei-me. Não posso ser-me, serei sozinho. Vazio como uma harpa sem cordas, mas que insistentemente toca um ritmo descompassado de respiração.
Vou deixar de escrever aleatório (promessa). Quero um tempo de vácuo, é melhor do que fazer o trajeto pensar - escrever - me arrepender. Não me comprometo com estilo, tenho um quê de sombra. Vou dar um tempo com ladainhas, pensar em uma história bem bonita para decorar meu bosque.
Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu procuraria pelo Senhor Sentido e o puxaria pela mão para perto de mim. Até quando o tempo quisesse.