Ela: Vou embora daqui, já estou de mala pronta.
Ele: Por mim tudo bem.
Ela: Como assim, 'por mim tudo bem'? Olha, se eu cruzar aquela porta você não me verá mais.
Ele: Não tem problema.
Ela: O que está dizendo, seu estafermo? Eu não te ameaço mais, estou te dizendo.
Ele: Pode partir, bon voyage.
Ela: Sabe, eu sempre achei você muito bobo. Sorrisos demais, abraços demais, palavras exageradamente doces, cigarros mentolados de marcas horríveis, LP's das bandas mais cafonas, livros de autores decadentes - nossa, tudo muito ultrapassado.
Ele: Pois é.
Ela: Não banque o fático comigo, já passamos da fase de ficar testando o canal de nossa esdrúxula comunicação. Vai, diz alguma coisa antes que eu finalmente vá daqui para nunca mais olhar esse seu semblante conformado.
Ele: Não sei.
Ela: O que é agora, deu para irritar? Ora, eu só posso ser maluca ou algo similar. Onde estou que já não fui daqui? É isso mesmo, chega de conversa. Quanto a você, não me procure. Estou morando na Rua 'x', apartamento 'y', esquina com a Rua do Nunca e no bairro dos Ninguéns. Ah, detesto você. Ou melhor, te odeio.
Ele: Pode deixar, te faço uma visita.
- Ela foi-se dali como quem foge de um martírio. Não tinha nome, identidade, não era nada. Não passava do imaginário dos que fantasiam e não sentem.
Onde posso encontrar minha objetividade?